Era uma vez, numa floresta pacífica e cheia de vida, um pequeno urso chamado Bino. Durante o dia, Bino adorava explorar. Corria pelos campos de flores, subia nas árvores mais altas e brincava com as borboletas que passavam. Os seus dias eram cheios de risadas e aventuras. Mas, assim que o sol começava a descer no horizonte e as sombras se alongavam, algo mudava dentro dele.
Bino sentia o seu coração bater mais rápido e o seu estômago ficava apertado. Ele não gostava do escuro. Na verdade, ele tinha muito medo da noite. Quando a lua aparecia e o céu ficava preto como carvão, Bino corria para casa, fechava a porta bem rápido e deitava-se na sua cama. Tapava-se com o cobertor, cobrindo-se até às orelhas, e ficava ali, quieto, esperando que o sol nascesse outra vez.
“Quem sabe o que pode estar lá fora no escuro?”, pensava ele todas as noites. “Talvez monstros, ou sombras assustadoras que me espreitam…”
Uma noite, quando o silêncio da floresta parecia mais profundo, Bino ouviu um som que não esperava. Era suave, mas claro. Um pio de coruja. Ele espreitou por debaixo do cobertor e viu, pousada no parapeito da janela, uma coruja de olhos enormes, cintilantes como duas luas pequenas.
– “Por que estás tão escondido, pequeno urso?” – perguntou a coruja, num tom suave e acolhedor.
– “Eu… eu tenho medo do escuro,” – sussurrou Bino, envergonhado.
A coruja, com as suas penas macias e brancas como a neve, inclinou a cabeça de lado e sorriu gentilmente.
– “Ah, entendo. Muitos têm medo do que não conseguem ver. Mas o escuro não é o que pensas, Bino. Se quiseres, eu posso mostrar-te.”
Bino hesitou. Ele estava tão habituado a esconder-se que não sabia se estava preparado para enfrentar o medo. Mas algo no olhar da coruja o fez sentir-se seguro, como se ela conhecesse todos os segredos da noite.
– “Está bem,” – disse ele finalmente, deslizando para fora da cama e caminhando até à janela.
Lá fora, a noite estava silenciosa e tranquila. A coruja abriu as suas grandes asas e Bino seguiu-a para a floresta. Ele ficou surpreso ao ver como as árvores pareciam diferentes à luz da lua. Não eram assustadoras, como ele sempre imaginou, mas sim misteriosas e bonitas, com sombras suaves que se moviam lentamente ao ritmo da brisa.
– “Olha para cima,” – disse a coruja, apontando para o céu com uma das suas asas.
Bino levantou os olhos e ficou deslumbrado. Acima de si, o céu estava coberto de estrelas brilhantes, piscando como diamantes sobre um manto escuro. A lua cheia pairava sobre eles, banhando tudo com uma luz prateada e suave.
– “As estrelas só brilham quando o céu está escuro,” – explicou a coruja. – “Se o sol estivesse aqui, nunca conseguirias ver a beleza que está à tua volta agora.”
Bino olhou em volta, impressionado. A luz da lua fazia as folhas das árvores parecerem de prata, e o rio que corria perto da sua casa brilhava como se tivesse sido coberto de cristais. Ele nunca tinha visto a floresta assim antes.
– “É lindo,” – disse ele, com os olhos bem abertos. – “Eu nunca soube que a noite podia ser tão… calma.”
A coruja sorriu e assentiu.
– “Muitas vezes, temos medo do que não conhecemos, mas se olharmos com cuidado, percebemos que o escuro tem a sua própria magia. Os sons da noite são diferentes dos do dia. Escuta.”
Bino ficou quieto e fechou os olhos, prestando atenção. Ele ouvia o suave farfalhar das folhas ao vento, o som ritmado de um riacho ao longe, e o canto sereno dos grilos. Eram sons tão suaves, tão tranquilizantes, que Bino sentiu-se relaxar.
– “Nada aqui quer fazer-te mal,” – disse a coruja. – “A noite é apenas outra parte da floresta, como o dia. Cada uma tem a sua beleza.”
Bino abriu os olhos e olhou para a coruja, sentindo-se grato.
– “Acho que o escuro não é assim tão mau,” – disse ele, com um pequeno sorriso.
De volta à sua cama, Bino deitou-se novamente, mas desta vez não se escondeu debaixo dos cobertores. Ele deixou a janela aberta e olhou para as estrelas, piscando lá em cima. Pela primeira vez, ele não tinha medo. Em vez disso, sentiu-se em paz, ouvindo os sons suaves da floresta enquanto os seus olhos lentamente se fechavam.
E assim, o pequeno urso adormeceu, embalado pelo som do vento nas árvores e pelas estrelas no céu, sabendo que o escuro não era para temer, mas para admirar.
Fim.